Em um artigo do jornal Valor Econômico, Patrick Jenkin relata que os bancos europeus podem ser considerados "zumbis", representando um desafio para investidores internacionais. O autor baseia-se no relatório do aclamado Boston Consulting Group sobre essas instituições.
O que aconteceria se um estudo semelhante fosse realizado no Brasil?
O relatório se apoia no axioma de que as empresas que vêm sendo negociadas abaixo do seu preço de livro deveriam ser liquidadas, e seus valores devolvidos aos acionistas. Com 73% das instituições bancárias europeias sendo negociadas abaixo do seu valor contábil, vemos que o glamoroso mundo dos banqueiros já não é mais o mesmo.
Mas o que está acontecendo com os Bancos?
Em primeiro lugar, em meus estudos do setor, vemos a migração do modelo de negócios tradicional para as plataformas digitais. Hoje em dia, por exemplo, temos inclusive o formato White Label disponível a qualquer empresário interessado em criar o seu próprio banco, algo que antes nunca foi visto, permitindo uma explosão de novos bancos digitais.
Em segundo lugar, os juros mundiais atingiram mínimos históricos. Em uma análise estatística detalhada, conforme abordado em outro artigo, foi possível comprovar que os juros não estão em processo de elevação, mas sim retornando a patamares considerados normais do ponto de vista estatístico. Como é amplamente reconhecido, a diminuição dos juros, abaixo de patamares históricos, está diretamente associada a menores spreads bancários, resultando em lucros menores.
Existem bancos zumbis no Brasil?
Realizei uma pequena pesquisa assim que li a reportagem para verificar essa situação, e fiquei surpreso com o que encontrei.
Imagem: Preço em relação ao valor contábil. Imagem: W.G. and G.F.
Se levarmos em consideração os bancos de capital aberto que possuo em meu sistema, totalizando 21 empresas; observamos que 8 delas, ou seja, 38% dessas empresas, estão neste exato momento sendo negociadas com preços abaixo do valor contábil, exclusivamente aqui no Brasil.
O que pode ter causado essa assimetria entre preço e custo?
Aqui no Brasil, uma boa parte dos bancos pertence aos governos federais ou estaduais, o que gera a percepção de que uma parcela significativa do setor carrega um grau adicional de risco, especialmente em anos de eleição. Isso leva os investidores a exigirem prêmios, resultando no desconto do preço das ações e refletindo em baixos índices P/Bv.
Em outras palavras, torna-se desafiador para o investidor, que busca construir uma reserva para as gerações futuras, enfrentar flutuações tão expressivas nos preços em bancos associados ao governo. O investidor compreende a complexidade dessa dinâmica e, por essa razão, prefere empresas do setor privado, independentemente de estarem ou não sobrevalorizadas.
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