No Brasil, a renda fixa ganhou destaque neste início de ano, em meio à incerteza sobre os próximos passos do Federal Reserve dos EUA em relação aos cortes de juros. Em fevereiro, os ativos foram reavaliados pelos investidores. As taxas futuras brasileiras, os títulos públicos prefixados e os indexados à inflação foram afetados. Enquanto investimentos pós-fixados, vinculados à Selic, seguem em sua rotina de rendimentos brutos próximos a 1% ao mês, os títulos públicos atrelados ao IPCA e os pré-fixados seguem colocando à prova a saúde emocional dos investidores neste início de ano, pois seus rendimentos continuam com uma volatilidade ascendente e permaneceram levemente negativos no ano.
Embora 2024 tenha começado desafiador para o investidor de papéis pré-fixados, o ano ainda é promissor, pois se a inflação retroceder conforme esperado, os títulos desta categoria tendem a se valorizar e trazer ganhos com ágio expressivos.
No entanto, temos alguns problemas no radar, o primeiro deles é que o FED ainda não sinalizou firmemente uma redução do ciclo de juros. Adicionalmente, temos alguns pontos de preocupação no Core CPI, que não assustam, mas preocupam. Dito isso, se o FED não sinalizar algo na próxima reunião do comitê, o COPOM aqui no Brasil também fica impossibilitado ou limitado de reduzir mais rapidamente a taxa de juros.
O ambiente global também traz desafios, pois, como sabemos, temos dois conflitos geopolíticos muito graves acontecendo neste exato momento no outro lado do mundo. Isso pressiona politicamente os países, um exemplo deste estresse é a relação desgastada e já perigosa entre China e Estados Unidos. Se a China passar por dificuldades — e há muitos sinais de que isso seja provável — muitas das commodities deixarão de ser exportadas, pois se o principal cliente da China é os Estados Unidos, o cliente principal do Brasil é a China.
É interessante notar que começamos este artigo falando de algo que deveria ser fixo como a renda fixa, e no entanto estamos aqui falando de conflitos geopolíticos e comércio internacional. Isso ocorre porque o mercado é complexo e percebe que a inflação é um concorrente implacável. De nada adianta termos uma taxa de renda fixa prefixada, digamos em 11% ao ano, se a inflação corroer 12%. É exatamente este cenário que os gestores de fundo de investimentos focam suas pesquisas, pois, afinal de contas, seus empregos existem porque pessoas comuns, ou investidores comuns, depositam suas economias na esperança de que os profissionais do mercado financeiro os protejam deste tipo de situação.
