Como destravar a venda da sua empresa?
No artigo anterior eu mostrei uma técnica para aumentarmos o fluxo de caixa de uma empresa, consequentemente o seu valor percebido. Existem muitas outras maneiras que podemos utilizar para melhorar o preço de uma empresa e pretendo explorar ao máximo esse assunto numa série de artigos, que serão descritos aqui em nosso website. No caso de você estar considerando uma possível venda de sua empresa me acompanhe nesse artigo e mostrarei uma estratégia que pode viabilizar a venda e ao mesmo tempo lhe garantir uma renda passiva por muito tempo.
Status quo
Você tem um negócio bem estabelecido de médio porte que já está no mercado há um bom tempo, o que o torna o alvo ideal de fundos de investimento e empresas multinacionais procurando crescimento inorgânico. Você está no meio de uma negociação de sua empresa com um grupo maior que o seu, no entanto, as negociações não avançam pois o negócio por hora, não está bom para nenhuma das partes. Mas antes que você bata com os punhos fechados na mesa e desista do negócio, vou lhe propor uma saída que tornará o negócio viável.
O caixa ainda é rei.
Nas metodologias de avaliação de empresas que empregamos atualmente, nós fazemos valer do princípio “uma empresa vale o quanto gera”. Portanto, quanto mais uma empresa gera em termos de lucro e fluxo de caixa livre, mais valiosa ela se torna. Como o negócio está emperrado e você pretende viabilizar o negócio, vamos dividir a empresa em dois ativos, um que ficará para você e o outro que será o objeto de negociação, destravando esse possível negócio com o qual você vem sonhando.
Uma breve explicação das metodologias de avaliação
Os avaliadores sentados à sua frente muito provavelmente utilizarão um destes dois métodos de avaliação para chegar a um preço justo de sua empresa: a avaliação pelo Fluxo de Caixa Descontado, ou uma Avaliação por Múltiplos. Em ambos os casos a geração de caixa é a métrica primordial para o modelo de avaliação empregado, consequentemente nosso ajuste fino em finanças funcionará como mágica.
Por questões de simplicidade desse artigo utilizarei, em nosso modelo de avaliação, a metodologia de avaliação por múltiplos de lucro, considerando um múltiplo na casa de 10 (PE=10). A racional desse múltiplo é que o comprador está pagando R$10 para cada R$1 de lucro da sua empresa, logo, o comprador espera ter o retorno do seu investimento (Payback) em 10 anos, se tudo se mantiver constante.
Se você quiser adaptar o múltiplo à sua realidade deixo o link do banco de dados do Professor Aswath Damodarn.
Com essa breve explicação, estamos aptos a responder a pergunta:
Como viabilizar a venda de seu negócio?
Basta separarmos alguns ativos, como os imobilizados e/ou patentes dos demais ativos que serão vendidos. Se o fizermos de forma eficiente, reduziremos o valor de venda de sua empresa e ao mesmo tempo iremos assegurar uma boa renda para a posteridade.
Nosso caso de Estudo
Por questões de simplicidade de estudo vamos imaginar que os bens divisíveis sejam os imóveis, mas poderíamos considerar quaisquer outros bens que integram o ativo da empresa. Imaginemos que sua empresa seja de médio porte com um faturamento de R$ 4,2 milhões por mês com uma margem líquida de 12%. Supomos ainda que sua empresa possua imóveis próprios pagos avaliados em cerca de R$ 850 mil. Com isso temos:
Como podemos observar, o valor justo da empresa é de R$5,04 milhões e isso inclui todo o conjunto de bens necessários para a geração e operação de suas atividades normais, incluindo os imóveis que obviamente são utilizados pela empresa.
Modificação de proposta
Vamos agora analisar a mesma empresa com uma única alteração: fazendo com que os imóveis sejam retirados do ativo da empresa, e como agora a empresa não possui imóveis próprios ela deve pagar aluguel dos imóveis utilizados.
No modelo acima assumi que a empresa paga 8% ao ano, sobre o valor do imóvel, como despesa de aluguel. Despesas com aluguel são consideradas uma despesa operacional, e tem o seu valor deduzido do lucro, conforme a alíquota de IR de cada empresa. No nosso exemplo temos uma empresa no Lucro Real com uma alíquota de 22,5% de IR. Com o lucro líquido reduzido, temos um novo preço justo da empresa de R$4,513 milhões o que torna a negociação muito mais atraente para o nosso possível comprador. Quando comparado aos R$5,04 milhões originais, seria uma queda de 10,5% no valor recebido.
No entanto, como os antigos sócios ficam com os imóveis, eles (1) conservam parte do patrimônio R$850 mil, (2)garantem uma renda com os aluguéis dos imóveis R$68mil/ano e (3)viabilizam a venda embolsando R$4,513 milhões. Em resumo os antigos donos ficam com um patrimônio ainda maior, do que a oferta original e garantem uma renda para a aposentadoria.
Para viabilizar a venda de uma empresa é preciso entendermos qual a real necessidade do nosso comprador, pois muitas vezes os fundos de investimentos estão muito mais interessados nos bens intangíveis enquanto você, o atual dono, pode estar mais conectado com os bens tangíveis. Sejam eles, imóveis, patentes ou licenças, tente entender o que é mais importante para você e o que é mais importante para o seu comprador e desmembre esses ativos em partes se as negociações chegarem a um ponto de inflexão.
Vou deixar o link para que vocês tenha acesso a essa tabela e possam ajustar conforme a sua realidade. Consulte sempre seu contador para apurar o regime de tributação e a alíquitoa de IR de sua empresa.