Não venda sua empresa antes de ler esse artigo
Vivemos em tempos de concentração de capital e uma de suas consequências são as constantes fusões e aquisições que vemos no mercado. Quem tem um negócio bem estabelecido sente os efeitos na pele, e é constantemente assediado pelos fundos de investimentos e grandes conglomerados de empresas. Mas, antes que você considere qualquer transação que envolva a sua empresa gostaria que lesse esse artigo.
Imagem 1: Brasil bate recorde de fusões e aquisições em 2022. Fonte: Valor Econômico
Status quo
Você é provavelmente um empresário que trabalha arduamente, que entende cada detalhe do negócio, conhece os clientes e suas demandas, está por dentro da tecnologia do setor, e disputa palmo a palmo do mercado com a concorrência. É um trabalho extenuante que você realiza com maestria e o seu tempo é um bem escasso. Um belo dia, sem nenhum aviso, uma comitiva de engravatados bate a sua porta querendo comprar sua empresa, o que começa com um simples bate papo, se torna uma proposta firme de compra da empresa. Os seus sócios ficam tentados com o negócio, e você já não dorme mais à noite em busca da resposta à pergunta:
Devo vender minha empresa?
Infelizmente eu não tenho como lhe ajudar no processo decisório de compra ou venda de sua empresa, que é uma decisão bastante pessoal diga-se de passagem. Entretanto, o que eu posso fazer é lhe ajudar a melhorar o preço de venda da sua empresa.
O caixa é Rei
Na teoria moderna de avaliações de empresa, empregamos o conceito de “ uma empresa vale o quanto gera”. Nessa metodologia de avaliação, quanto mais caixa e lucro sua empresa gerar, mais valiosa ela se torna. De forma similar, se sua empresa não gera nem caixa nem lucro, menos valor ela tem.
Metodologias de avaliação utilizadas pelos fundos
Os avaliadores sentados à sua frente muito provavelmente utilizarão um destes dois métodos de avaliação para chegar a um preço justo de sua empresa: a Avaliação pelo Fluxo de Caixa Descontado, ou uma Avaliação por Múltiplos. Em ambos os casos a geração de caixa é a métrica primordial para o modelo de avaliação empregado, consequentemente nosso truque (conhecimento) em finanças funcionará como mágica.
Pare demonstrar um caso prático, nesse artigo utilizarei a metodologia de avaliação por múltiplos de lucro, considerando um múltiplo na casa de 10 (PE=10). A racional desse múltiplo é que o comprador está pagando R$10 para cada R$1 de lucro da sua empresa, logo, o comprador espera ter o retorno do seu investimento (Payback) em 10 anos, se tudo se mantiver constante.
Se você quiser saber mais sobre os múltiplos, deixo o link do banco de dados do Professor Aswath Damodarn.
Com isso, estamos aptos a responder uma das perguntas mais pesquisadas no Google:
Como aumentar o preço de sua empresa?
Basta aumentarmos o lucro. Consiedere isso:
Imagem 2: Exemplo de Demonstrativo de Resultados. Fonte: Celesc
Quando estudamos o Demonstrativo de Resultados das Empresas (DRE), vemos que existe uma linha destinado a receitas não operacionais. É nessa linha que são computadas as fontes de renda que não advém da operação principal da empresa. Utilizando a Celesc como exemplo, nessa linha teríamos todas as receitas que não advém da venda de energia elétrica. É exatamente aqui que entra nossa estratégia, criar uma linha de receita não operacional que impactará o lucro.
Imagem 3: Um Exemplo de Balanço Patrimonial Fonte: Celesc
Quando as empresas estão em um estágio maduro é comum que haja uma sobra de caixa considerável, que fica aplicado a espera por novos projetos da companhia. São nesses momentos que os recursos são destinados a investimentos que infelizmente não têm o cuidado de gerar fluxo de caixa, sendo portanto, desconsiderados do DRE, documento que os modelos de avaliação de empresas estão mais atentos.
Um caso de estudo
Imaginemos que sua empresa seja de médio porte e que tem um faturamento de R$10 milhões por mês com uma margem líquida de 15%. Supomos ainda que sua empresa não distribuiu o lucro do exercício anterior, cerca de R$18 milhões, conservando-o em um fundo de investimento tradicional.
Tabela 1: Valuation originado pelo emprego de Caixa da forma convencional
Como podemos observar, o caixa e equivalente de caixa cresceu como era de se esperar, mas infelizmente essa reserva de capital não conseguiu impactar a última linha do DRE: o lucro líquido. Consequentemente os modelos de avaliação de empresas terão uma dificuldade em mensurar o benefício do excedente de caixa e o valor justo da empresa gerado pelo nosso modelo será R$180 milhões.
Vamos agora analisar a mesma empresa com uma única alteração: utilizando o caixa em aplicações que geram aportes.
Tabela 2: Valuation Gerado pelo novo fluxo de caixa adicionado.
Tudo parte da distinção entre ganho de capital e rendimento. Se focarmos na criação de um fluxo de caixa, digamos semestral, conseguiremos fazer os seus efeitos chegarem à última linha do DRE, fazendo com que o lucro seja aumentado. Isso ocorre porque as normas contábeis aceitas só consideram receita se há de fato um recebimento de valores. Como o lucro líquido é mais facilmente entendido pelos modelos de avaliação de empresa, temos um valor de empresa aumentado, R$195,3 milhões.
Tabela 3 : Compartivo entre o modelo tradicional e o modelo proposto.
Normalmente, nas negociações private, o excedente de caixa e todos outros ativos não operacionais ficam com os antigos donos, mas não há uma regra fixa. Como vemos, se nos focarmos em criar uma receita não operacional podemos obter outros R$13,7 milhões desse possível negócio.
Vale lembrar, que levaríamos cerca de um ano para que essas trocas possam ser percebidas contabilmente e refletidos no valuation. Enquanto isso, tudo o que você pode fazer é ir “cozinhando” o negócio, até que todos os ajustes sejam implementados, e torcer para que os compradores não tenham lido esse post.
Leia o próximo post da série "Não venda sua empresa antes de ler esse artigo."