Ontem tivemos a divulgação dos resultados do quarto trimestre da empresa Taesa e hoje participei do Webcast junto aos outros acionistas para tentarmos entender por que alguns investidores ficaram felizes e outros ficaram tristes.
Hoje participei do Webcast da divulgação dos resultados do quarto trimestre e deparei-me com uma apresentação de resultados, na qual os diretores da empresa transmissora de energia elétrica exibiram os resultados baseados no lucro líquido regulatório. Observando esses resultados, notei números bastante positivos e crescimento bastante expressivo. Se olharmos o lucro líquido anual, veremos que o crescimento foi praticamente o dobro de ano para ano, com alguns empreendimentos sendo entregues e concluídos. Notamos ainda que o desempenho operacional se mantém em um alto índice de disponibilidade e que a dívida líquida vem diminuindo ao longo desse ano. Também foi anunciado que haveria distribuição de dividendos de JCP, se aprovado pelo conselho de administração, na casa de R$1,3 bilhões, referente ao exercício de 2022.
No entanto, mesmo com os números apresentados em seu Webcast, temos que o preço da ação da empresa (TAE3) caiu somente hoje 4%.
Por que será que o mercado reagiu negativamente ao release de resultados do 4º trimestre de 2022?
O que ocorre é que a Taesa tem duas normas contábeis em que ela registra seus resultados. O primeiro deles é o mais antigo, que vinha antes de 2010, e é o sistema contábil permitido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Nessa norma contábil, que foi utilizada na apresentação, os números de crescimento foram bem expressivos.
Entretanto, em 2010, as empresas brasileiras listadas na B3 foram obrigadas por lei a contabilizarem seus dados segundo a norma internacional IFRS. Desde então, tivemos a mudança na forma de contabilizar o imobilizado, pois segundo o IFRS, toda a infraestrutura construída pelo operador não é registrada como ativo imobilizado do próprio operador porque o contrato de concessão não transfere posse da União à empresa. Ou seja, tudo que a Taesa construir em linhas elétricas, segundo o IFRS, não pode ser considerado ativo imobilizado, devendo ser contabilizado como ativo financeiro. Portanto, quando observamos os números contábeis sob a ótica do IFRS, que amortiza e corrige o ativo financeiro conforme dados inflacionários como IPCA e IGP-M, temos resultados diferentes daqueles da norma regulatória.
Quando observamos o Demonstrativo de Resultados (DRE) de 2022, entendemos um pouco mais como funcionam esses dois tipos de contabilidade. Por exemplo, no IFRS, na conta de recebimento por sistemas de transmissão, não há nenhum tipo de receita, enquanto no regulatório praticamente toda a receita entra nessa conta. Ainda assim, no IFRS, temos outras contas, como operação e manutenção, remuneração do ativo contratual, correção monetária, receita de implementação e outras, que não existem na contabilização pelo método regulatório. Então, basicamente, são dois sistemas que existem e que a lei permite que a Taesa registre seus resultados. E como vemos no DRE, eles resultam em números diferentes. E é por essa razão que um investidor ficou feliz e o outro investidor ficou triste.
Qual dos dois sistemas contábeis você deve confiar?
Eu acredito que em ambos! Você deve dar uma observada tanto no resultado IFRS quanto no resultado regulatório. Mas acima de tudo, nunca deixe de tentar entender como funciona a RAP da Taesa, pois a leitura da RAP nos fornece uma boa estimativa do futuro da empresa.
Link do Youtube: https://youtu.be/4hjG7S_rKhA