Avaliação Relativa
Quando trabalhamos com investimentos é normal nos depararmos com oportunidades das mais variados possíveis. Uma das ferramentas que nos ajuda muito e que descomplica o nosso “valuation” é a avaliação relativa. Aqui vai um exemplo de como ela é empregada no dia a dia:
Imaginemos que você queira colocar sua casa de praia à venda e você não faz ideia por qual preço vender. Neste caso, como você formula o preço de venda? Simples, você verifica o preço das propriedades similares à venda e tenta traçar um paralelo. A relativização de uma casa em relação à outra torna o trabalho de valuation muito mais simples. Você sabe que será dificil vender sua casa de 2 quartos por R$ 1 milhão, quando seu vizinho está vendendo uma casa de quatro suítes por R$900 mil.
Nos investimentos utilizamos de estratégia similar, empregamos a avaliação relativa para entendermos se um investimento vale a pena ou não.
Como avaliar um investimento?
Supondo que eu lhe diga tenho um investimento que iria lhe proporcionar um retorno de 10% ao ano nos próximos 10 anos. Você investiria no meu negócio? A resposta a essa pergunta é: depende. Depende dos investimentos alternativos que você tem disponível. Se você for cotista de um fundo de investimento que estiver tomando prejuízo por um longo tempo, minha proposta é irrecusável. Porém, se você é dono de um empreendimento que tem um retorno sobre capital próprio de 30%aa. minha oferta soa quase como uma ofensa. O interessante nos investimentos é que a realidade de um investidor é bem diferente da realidade dos demais investidores, criando o que chamamos de mercado.
Uma trena para um arquiteto, Tesouro Direto para um Investidor
Se você pretende construir um império e não possui uma fita métrica, é melhor adquirir uma. No caso a fita métrica para um investidor americano morando nos Estados Unidos são os T-Bonds do governo americano, já a fita métrica para um investidor brasileiro morando no Brasil são os títulos do governo brasileiro.
Figura 1: Card do Tesouro direto do dia 04 de julho de 2022 as 16:30hs
Os títulos do governo são considerados como os investimentos mais seguros dentro do Brasil e por isso eles são ideais para utilizarmos como nosso referencial, nossa “trena”, dentro do universo de investimentos disponíveis em solo brasileiro.
Como vemos na figura 1, a minha proposta de investimento rendendo 10%aa. ,quando comparada ao tesouro direto prefixado rendendo 13,04%aa, é logicamente um mal negócio. Mas você não teria como saber disso se não houvesse um referencial que faça algum sentido.
Como utilizar o Tesouro Direto?
É comum os gerentes dos bancos ou Agentes Autônomos de Investimentos nos oferecerem produtos de investimento ao longo do tempo. Esse é o momento ideal de utilizarmos nossa "trena" para verificarmos o quanto os investimentos oferecidos por eles estão rendendo quando comparado ao nosso referencial.
Essa semana estou discutindo junto ao meu gerente um possível investimento nas debêntures de primeira séria da Eneva.
Fonte: BB/ Ofertas Públicas
Lendo o prospecto de lançamento descobrimos que as debêntures da Eneva têm vencimento em 15 de agosto de 2030. Tecnicamente, teríamos que utilizar papéis com o mesmo prazo de vencimento para fins de comparação, mas como efeito de uma primeira investigação iremos utilizar o título IPCA+2032, que é o título disponível com o prazo de vencimento mais próximo possível ao papel da Eneva. Como diz Warren Buffet, é melhor estar mais ou menos certo, do que precisamente errado.
Vemos que a taxa do Bookbuilding possivelmente venha a ser IPCA + 6,05%. Será que essa renumeração é suficiente para o investidor?
Antes de prosseguirmos com o estudo, devemos lembrar que os títulos do governo sofrem dedução de imposto de renda enquanto essa debenture é isenta de imposto de renda ( nem toda debenture é isenta de IR) e por isso devemos deduzir o imposto dos títulos do governo para efeitos de comparação.
Para esse artigo não ficar muito técnico, eu vou reportar a taxa equivalente aqui e caso você esteja interessado em como calculá-la de forma manual eu deixo o link para um outro artigo aqui. Desse modo, temos que o título do governo selecionado para ser nossa base de comparação, renderá livre de imposto de renda algo em torno de IPCA + 4%.
Temos o seguinte panorama:
- Tesouro direto rendendo IPCA+ 4%aa.
- Debêntures da Eneva rendendo IPCA + 6,05%.
Se considerarmos uma inflação de 5% aa para o período de 10 anos. Isso significa dizer que teremos aproximadamente um rendimento de 9,2%aa. Dos nossos títulos do governo contra 11,35% de nossa debêntures de Eneva.
Com isso estamos aptos a reponder: Você investiria nas debêntures da Eneva rendendo 11,35% ao ano se neste exato momento você tem um investimento “livre de risco” rendendo 9,2%aa.?
Conclusão
Sendo assim, a resposta a essa pergunta varia conforme a percepção de risco de cada investidor, alguns irão achar mais seguro ficar nos títulos do governo, enquanto outros irão achar que o risco/retorno do papel Eneva é atraente. O truque aqui é somente investir em oportunidades que se tenha uma perspectiva de rendimento de no mínimo 20% a mais do que o título do governo brasileiro. Justamente para compensar o maior grau de exposição ao risco. Entretanto, nem sempre isso acontece, muitas são as vezes que investimentos são oferecidos com taxas iguais ou ainda inferiores aos títulos do governo, portanto esteja atento.
Sendo assim, temos que a taxa mínima aceita seria de 11,04% e por tanto Eneva, oferecendo 11,35%, merece nossa atenção e devemos prosseguir nossa investigação antes de investirmos.
Para Refletir:
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