Alpargatas: Equilibrando Conforto e Finanças

Quem não aprecia a sensação confortável de deslizar os pés em um par de chinelos Havaianas?

Eu, por exemplo, não hesitaria em usá-los até mesmo nos meus dias no escritório. No entanto, mesmo quando estou desfrutando de um merecido descanso vestindo meu modelo favorito, a realidade persiste: meu dinheiro nunca tira folga. Isso me faz questionar:

Será que investir na empresa por trás das Havaianas é uma decisão tão confortável quanto calçar esses chinelos icônicos?

 

Em nossa análise inicial, focamos na primeira linha do demonstrativo de resultados e deparamos com um problema significativo: a ausência de crescimento nas vendas e a falta de reposição inflacionária mínima sobre a receita. É evidente que a empresa Alpargatas estagnou em seu faturamento desde 2015, mantendo-se em torno de R$4 bilhões de reais

 

Como aspecto positivo, destaco a estabilidade da margem bruta ao longo dos anos, mantendo-se em torno de 45%, o que sugere que os custos variáveis não são um problema para a empresa.

Imagem extraída do relatório de dezembro de 2015.

Imagem extraída do relatório de dezembro de 2022.

 

Entretanto, diante da ausência de crescimento nas vendas para compensar os saques econômicos da inflação, é previsível que a base de despesas vá corroendo os fundos provenientes das receitas. Isso ocorre devido ao fato de que as despesas são amplamente ajustadas pela inflação. Podemos verificar que as despesas da Alpargatas sairam de R$1 bilhão antes de 2015 para os atuais R$1.8 bilhões em despesas operacionais. Assim, a empresa gradualmente absorve parte da receita de vendas, impedindo o crescimento do lucro.

Como anda a estrutura de capital da Alpargatas?

Observamos que as despesas com juros nunca foram um problema para a empresa, mas atualmente, devido à nova estrutura de capital, mais endividada, o contexto de juros elevados está tirando o fôlego da empresa. Diante desse cenário, percebemos que uma das opções seria realizar um aumento de capital para preservar a sólida estrutura de capital mantida por anos. Fato esse que foi evidenciado recentemente, permitindo que a empresa ganhe algum tempo na luta para encontrar uma solução para o delicado equilíbrio entre suas vendas e despesas.

O que eu faria se fosse um dos sócios controladores?

Em um contexto como esse, como gestor da Alpargatas, existem apenas dois caminhos a seguir. Um deles é buscar o aumento nas vendas, criando novos produtos e atingindo novos mercados, o que demanda perspicácia em um cenário mundial contracionista. O outro caminho é igualmente desafiador, envolvendo a redução de despesas, a melhoria dos processos internos, o aprimoramento da dinâmica de produção e gerenciamento, arrumando a casa enquanto aguarda um novo ciclo econômico. Ambas as decisões demandam a proatividade de calçar um apertado sapato social, enquanto o prazer do conforto de uma elegante Havaianas terá que ser adiado.

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