Escândalos de fraudes e possíveis fraudes não são novidades no mundo corporativo. Ano após ano, vemos inúmeros casos vindo à tona. A questão é:
Como os investidores e credores podem reduzir as chances de se verem envolvidos em escandalos?
Quando me recordo da última confusão com classificações contábeis e um suposto esquema para inflar lucros que eu me vi envolvido como investidor foi em 2008. Na ocasião, eu estava investido na Sadia, uma empresa tradicional da área de proteína animal. Naquela época, minha metodologia de seleção de investimento não envolvia nenhuma preocupação direta (ou indireta) quanto à análise da probabilidade de uma empresa ser manipuladora de dados contábeis. Minha seleção era motivada pelo fato de eu consumir os produtos da marca e gostar das propagandas, como a da margarina Qually da Sadia, na qual uma família tomava um café da manhã em uma encantadora imagem de família unida e feliz. Que análise extra poderia ser requerida de uma empresa com esse tipo de apelo?
O que aconteceu foi que eu e milhares de outros investidores fomos avisados da noite para o dia de que a tesouraria da empresa estava operando pesadamente com derivativos no intuito de gerar uma boa receita não operacional. E quando a crise do subprime entrou com força, a empresa amargou severas perdas financeiras. O castigo foi se fundir vergonhosamente a um concorrente menor: a Perdigão, que deu origem ao que hoje é a BRF.
Por que eu amarguei perdas financeiras?
Olhando para minha história, é evidente notar que a minha despreocupação total quanto à possibilidade de uma possível manipulação contábil é o ponto de partida. Desde então, todas as minhas análises passam pelo critério de verificar se o que estamos vendo realmente existe, e se existe, qual a probabilidade de ser uma miragem; esse é o passo número 1. Demorei basicamente 15 anos para aprimorar e refinar as técnicas básicas para que o meu radar de fraude pudesse funcionar apropriadamente. A dor por perder não só o dinheiro investido, mas por perder dinheiro alheio, fizeram-me buscar por respostas.
Uma palavra sobre o caso Americanas
No caso da Americanas, vemos que uma técnica relativamente nova como o Forfait (ou risco scado), que não era regulamentada adequadamente pelos CPCs ou fiscalizada pela CVM, fez com que a empresa testasse o limite dos credores, o que poderia ter durado indefinidamente até o limite ser descoberto, como foi o caso. O que mais me intriga é que os bancos, que supostamente têm os analistas de crédito mais técnicos do mercado, nada viram e nada fizeram. Só existe duas hipóteses para o ocorrido: ou os analistas de crédito (uma dezena deles) não viram, ou a segunda e mais provável é que os superiores, mesmo sabendo do problema, concederam o crédito dado a boa reputação e ao tamanho da empresa Americanas. Soma-se a isso o fato de outros bancos estarem cedendo crédito à empresa, o que aumenta a pressão sobre o executivo no comando, que tem de escutar: Se o banco x está liberando crédito, por que nós não estamos?
A consequência de tudo isso é que milhares de investidores saem do mercado financeiro para nunca mais voltar, seguindo o caminho de imobilizar capital em ativos físicos, com o grande argumento: pelo menos nos imóveis, eu sei que não irei perder. Isso penaliza uma série de outras empresas que necessitam de recursos advindos dos sócios para fomentar seus negócios, fazendo com que o Brasil se atrase em relação a outros portos financeiros mais seguros, como o caso dos Estados Unidos.