Debêntures da Unigel: Uma Análise de Crédito e Mérito

A Unigel está em busca de um novo acordo com os detentores de R$ 500 milhões em debêntures, cujo vencimento antecipado foi declarado na quarta-feira (6). O que está por trás de tudo isso?

Segundo informações obtidas pelo Valor, esses credores estão inclinados a iniciar a execução da dívida, enquanto o grupo, que não possui os recursos necessários para cumprir o compromisso, persiste na tentativa de negociar uma prorrogação do prazo. Enfrentando dificuldades financeiras, a Unigel argumenta que possui projetos promissores em seu portfólio, incluindo a construção de uma fábrica de hidrogênio verde em Camaçari (BA), mas carece dos recursos necessários para concretizá-los. Além de produzir fertilizantes nitrogenados, acrílicos e estirênicos, o grupo também tem sido impactado pelo cenário desfavorável na indústria petroquímica global, considerado o pior em quase três décadas. 

Imagem fonte: Anbima

Iniciamos nossa investigação a partir do marco inicial: a emissão da debênture, surpreendentemente ocorrida há menos de dois anos, especificamente em abril de 2022.

O que mudou tão significativamente em menos de 20 meses desde o lançamento da debênture?

Para responder a essa pergunta, investigo os prospectos de lançamento da debênture para tentar encontrar os projetos que motivariam a captação desse capital.

 

Imagem: Anbima

Eis que surge,  o primeiro sinal de alerta: a ausência de especificidade na utilização do capital obtido. Quando emprestamos dinheiro, esperamos que a empresa o aplique em novos projetos que gerem receitas, convertendo-se, por fim, em resultados que serão compartilhados entre os trabalhadores, os acionistas que investiram, os credores que comprometeram seu capital e o governo que criou o ambiente propício. O dinheiro não se cria sozinho; ele precisa de novos empreendimentos.

Image Fonte: Ri Unigel

O segundo indicador preocupante: na análise do demonstrativo de resultados, anos de prejuízo na Unigel, abrangendo os anos de 2017, 2018 e 2020.

 

 Imagem: Ri Unigel

O terceiro alerta emergiu no índice de cobertura de juros, uma medida crucial para avaliar a qualidade do empréstimo, surpreendentemente esquecido pelo mercado. Na época, esse índice encontrava-se  abaixo das diretrizes estabelecidas pela literatura clássica.

Como vemos, a média dos últimos dois anos indicava um índice de cobertura de 2,4, evidenciando possiveis fragilidades.

 

O que levou os credores a emprestar capital à Unigel?

Temos que contextualizar à época, voltando no tempo para o início de 2021, onde os investidores enxergavam números muito positivos vindo da empresa e uma economia crescente sustentada por uma taxa de juros da renda fixa em seu nível histórico mínimo, o que impulsionou os investidores para outros ativos.

Imagem: Bacen

Em suma, em uma situação como essa, onde estão em jogo as economias de famílias e os empregos de trabalhadores, como fez falta aquela abertura de capital, infelizmente adiada, da Unigel em 2021. Fica evidente que o mercado de capitais não é apenas um jogo de traders, swing traders e especuladores ávidos, mas um provedor de capital mais acessível às empresas que sustentam nossas famílias, governos e sociedade.

 

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